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O Nokia N810 merece mais amor

Meu N810 rodando o DrawTerm conectado ao 9front

Talvez seja apenas minha impressão, mas o Nokia N810 é um dispositivo que parece ter sido esquecido na história, algo que gerou certo hype por menos de 2 anos e acabou virando mais um item de curiosidade na grande lista de dispositivos da Nokia na Wikipedia. Esse hype incluiu uma cena bastante ativa de hacking e modificações para o dispositivo. No entanto, tudo isso parece ter parado, e desde então, ouvimos poucas notícias sobre ele.

Ao contrário de seu irmão mais velho, o N900, que ainda possui uma comunidade ativa até hoje, não vou entrar na discussão sobre as diferenças entre eles ou o que tornou o N900 o queridinho da comunidade. Eu também tenho grande apreço pelo N900. Mas vamos voltar um pouco na história.

O Nokia N810 fazia parte de uma linha de produtos da Nokia que se encaixavam na categoria de “Internet appliance”. Basicamente, esses dispositivos eram pequenos e permitiam acesso à internet, e-mail, notícias, entre outras funcionalidades. Parece algo bastante básico e simples para os padrões atuais, não é mesmo? No entanto, essencialmente, eram tablets antes mesmo de conceito de tablet existir. Estamos falando de dispositivos que, já em 2005, rodavam o sistema operacional Linux. Eles possuíam todo um ecossistema próprio, repleto de aplicativos com fácil instalação e desenvolvimento de novos para o sistema.

Lançado no final de 2007, o N810 contava com as seguintes especificações:

  • CPU: TI (Texas Instruments) OMAP 2420 (400 MHz)
  • RAM: 128 MB
  • Armazenamento interno: 2 GB
  • Sistema Operacional: Internet Tablet OS 2008 Edition
  • GPU: PowerVR MBX (Sem aceleração devido à falta de suporte de driver por parte da Nokia)
  • USB: Sim, mini USB 2.0 com suporte a OTG
  • Entrada para cartão de memória: Sim, com suporte a cartões miniSD

A lista é longa mas dá para se ter uma ideia.

Para sua proposta, as especificações não eram nada mal, especialmente considerando a época. No entanto, existem algumas críticas pessoais que podem ser feitas.

Desenvolver para sistemas embarcados pode parecer algo simples e bonito nos dias de hoje, mas naquela época, tudo ainda estava evoluindo. A escolha da Nokia pelo Scratchbox foi, no mínimo, curiosa e interessante. Eu acredito que, naquela época, um sistema desse tipo fazia muito sentido, especialmente para desenvolvedores menos experientes que simplesmente queriam portar ou criar aplicativos para o seu sistema, sem precisar baixar um conjunto de ferramentas e realizar operações complicadas na internet para fazer com que tudo funcionasse. Era um sistema bem integrado que trazia muitos benefícios, mas também alguns desafios.

Ficar preso a um chroot e criar um aplicativo simples em GTK e controlar todas as dependências era ótimo. No entanto, quando se tratava de criar algo mais complexo envolvendo o kernel ou bibliotecas do sistema, as coisas começavam a complicar um pouco. Isso sem mencionar a escolha de uma versão do GCC que, naquela época talvez já não fizesse sentido, pelo menos na minha opinião.

Se eu começasse a detalhar todos os problemas relacionados ao Scratchbox aqui, este texto se tornaria muito extenso (talvez seja uma ideia para uma postagem futura). No entanto, acredito que meu maior problema com o N810 não diz respeito apenas a ele, mas sim ao cenário geral da época, que envolvia dispositivos embarcados com esse tipo de aplicação. O mundo open source pode trazer maravilhas, mas também pode ser bastante caótico.

Por exemplo, cada indivíduo fazia suas próprias modificações no kernel e as disponibilizava em seu site pessoal (autocrítica?), em vez de trabalhar colaborativamente em algo maior. O resultado era que havia dezenas de kernels e imagens diferentes em árvores diferentes, com configurações e patches diversos, muitas vezes incompatíveis entre si. Não era uma situação do tipo: “pegue este meu sabor e aproveite”, mas sim: “pegue este meu sabor, prove-o e se gostar ou não, foda-se. Aqui está a receita e não sei se volto amanhã.”
Era uma grande feira caótica.

Muitos desses projetos ainda seriam úteis nos dias de hoje, uma vez que o N810 não é totalmente compatível com kernels atuais. Existem drivers para alguns dos chips que ele utiliza sim, mas é basicamente isso. Muitos desses projetos resolviam questões que ainda não foram solucionadas até hoje, a fim de tornar o N810 funcional com um kernel moderno. Havia patches e configurações com calibração adequada para o sistema de energia e bateria e para o controlador LCD etc. No entanto, grande parte deles foi varrido para o limbo da internet.

Mas voltando ao dispositivo em si. Sim, eu sei que a proposta do N810 era diferente da do primeiro iPhone lançado no mesmo ano. Um exemplo é a tela resistiva. Todos os modelos anteriores utilizavam essa tecnologia, mas a Nokia talvez pudesse ter feito algo diferente para melhorar a experiência do usuário. Não que eu reclame do Hildon e do Maemo, eles fizeram um ótimo trabalho para quem usava a caneta capacitiva. No entanto, minha maior preocupação está relacionada à escolha do processador e da GPU.

Talvez eu tenha focado muito nos problemas, talvez isso seja um desabafo… Quem se importa? O importante é que o N810 é um dispositivo maravilhoso e merece mais amor. Possuo um N810 e seu irmão N800, e a experiência de utilizá-los hoje em dia é catártica. São tantas possibilidades e elegância.